8:00am
-és uma MERDA!
9:00am
9:00am
o autocarro passa no silencio das minhas costas enquanto eu me distancio no Tejo
9:45am
9:45am
leio na Triologia de Nova Iorque, de Paul Auster:
"...de qualquer modo, isso faz parte da doença que estou a tentar curar.
- Uma linguagem nova?
- Sim. Uma linguagem que, finalmente, diga o que temos a dizer. Pois as nossas palavras já não correspondem ao mundo. Quando as coisas eram um todo, podíamos confiar nas nossas palavras para as exprimirem. Mas essas coisas fragmentaram-se aos poucos, rasgaram-se, ruíram num caos. E, no entanto, as nossas palavras permanecem as mesmas. Não se adoptaram à nova realidade. Assim, sempre que tentamos falar do que vemos, estamos a falar com falsidade, distorcendo assim precisamente aquilo que tentamos representar. E agora é tudo uma confusão.(...)"
decido parar um bocado. por hoje não quero ler mais nada.
distraio-me com a inquietação de uma mãe e duas crianças loiras que a tentam roubar ao Metro.
ainda faltam 4 estações, arrumo-me no banco, e coloco o livro no meu saco. vejo então que está lá outro e não lhe resisto, tiro-o para ficar no plano de total alcance dos meus olhos. a capa faz-me desde logo suspirar pela memória do mesmo, vejo que tenho um post-it azul, abro nessa página, que é a última. no post-it está escrito "tempo". lembro-me perfeitamente de o ter escrito com o escantilhão, numa noite, sozinho na minha mesa da cozinha, depois de jantar. e pensar que quando me esquecesse dele ele iria re-aparecer, no tempo certo. leio:
Sabemos que o tempo passou
Que alguma coisa deveria ter sido dita
(talvez depois, talvez mais tarde)
Deixamos atrás de nós
Uma sequência desconexa de gestos irreparáveis
E, feridos,
Por todas as coisas
que poderíamos ter evitado a nós próprios
Caminhamos para o silêncio
E para a escuridão indefinível dos bosques.
Luís Falcão
em, PÉTALAS NEGRAS ARDEM NOS TEUS OLHOS
10:05am
chego e enquanto arrumo o meu casaco na cadeira vejo que tenho na minha secretário o livro; Pequena história do Tempo, de Leofranc Holford-Strevens.
algo me diz que hoje vou ouvir que sou uma MERDA, outra vez.
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